XXVI

foi um verão daqueles.
a mosquitama vagalumeava a deus dará
e o Girivá, ali, humilde, coberto
de fevereiros e de gente pequena brincadeirando,
solta por tudo o que é mato e campo.
o pai e mãe tinham voltado da viagem
feita ao sul do que é norte. andaram em barquinho
mergulharam em arroio, quase arranharam céu.
depois foi um aperto de cincha que deus me livre,
ô, tempo difícil! e o Girivá véio risonho, feliz da vida
pela ida e pela vinda de tanta gente sem mais.

eu tinha lá minhas duas mãozinhas cheias e dois dedito
de sobra. bombachudo que andava, assim como quem
se prepara para trocar a plumagem e levantar voo de aurora,
aprendia degavarzinho a ajeitar o sogueiro para lida,
firmar assento no estrivo, trotar feito homem campeiro,
coisa que eu, por sinal, muito não era mas queria.
negro Ismael, sim, era homem gaúcho da copa ao dedão!
tinha os olhos cuscos e tristes e a fala pra pouco.
sorria sotreta pra tudo em que só via graça,
e o mate era ermão do silêncio que rondava o braseiro.

lembro, porque não deixo de esquecer, que tombo é marca
que machuca as partes e faz com que a memória engrace.
vinha eu, então, num trotezito de guri centauro, cheio de confiança
e não havia no mundo nada mais que me fizesse mais livre.
e aquele petiço era vaqueano que só ele. era dar boca
e ele se atracava a tocar gado feito piá descalço. daí, que no
bate casco meus arreios ladearam que nem xiru manco
e com uma das bundas que tinha soube que alto era o sogueiro.
seu Ismael estacou, parou no costado de uma porteira e ficou.
com o choro sufocado no peito de mocito, montei e fui ao seu encontro.