LVI

Um Gaulês irredutível,
um Queiroz irredutível
o que importa?

Importa ser bom!
Bom como os avós e as crianças
chutando a roda dos dias.

LV

Nasceu junto ao nascer da primavera,
Equinócio das flores e do amor.
Iluminou o mundo desde um sonho Apolíneo
e venceu Fobos com auxílio de Atena.
Migrou como pássaro rumo a desolação
E aí foi feliz com arcas cheias de gelo.

LIV

Semear é partir-se ao meio pelo futuro.

LIII

Despertava de madrugada
com medo de não acordar.
De manhã tinha sede do mundo
e corria atrás do tempo.
À noite procrastinava o sono
até a vida alcançá-lo em silêncio.

LII

Sempre conheceu o vazio presente nas palavras,
pois quanto mais cheias, mais inofensivas...

A ofensa é uma ação sem verbo.

LI

Cria no progresso humano,
na evolução moral e no século XXI.

Cria piamente na igualdade,
na liberdade do corpo,
e na verdade dos bons ideais.

Não admitia a intolerância
e detestava a divergência.

Queria salvar o mundo da pobreza,
e pensava o sacrifício
como um anacronismo religioso.

Sonhava o Universo sob o império do amor
e era promíscuo como um cão.

L

Yahweh
nunca pediu a tua opinião, guri!

Folhas secas em teu rosto
e sementes aos teus pés
bastam!

Deus não precisa de palavras para contar a História...
Precisa de homens!

XLIX

Vem, filho meu, é chegada a hora,
não há mais razão alguma para o medo!
Em meus braços lúcidos hei de te embalar,
pois a angústia que aqui vivia já não existe.

Vem, que Israel se fez história
e a verdade resplandece sobre o corpo do futuro...
E mesmo que ventre algum no mundo te carregue,
és real como o pensamento e a morte.

E ainda que ao fim desta jornada não me venhas,
Filho meu, terás em mim a realidade e a plenitude.

XLVIII

Navego garrafa no meio rua,
flutuo papel em futuro naufrágio...
Sempre a incerteza do mar e da chuva;
sempre a beleza no que já não é.

Grita o marujo do alto do mastro:
São montes de água pra não mais acabar!
Fala o imediato apoiado na proa:
Força, homens, a terra há de chegar!

A chuva não deu descanso àquela noite
nem à manhã seguinte, nem à semana inteira.
Molhados e brancos os marinheiro pediam,
famintos e trêmulos os marinheiros rogavam.

Ao fim, a vida afundou sob uma nesga de sol.

XLVII

Um perfume se desprende do teu rosto,
não reconheço mais as flores no jardim...
Imito o sol sobre a brancura da manhã
entorno o vento e repouso no vazio.

Não sou o mundo e bem podia,
não sou o amor e nem o quero...
Uma doçura se desprende do meu peito
como se fosse feito de alcaçuz
o meu respiro.

XLVI

Era uma noite antiga,
tão antiga quanto a mais antiga
das noites.

Andava sozinho e no escuro,
e trazia comigo a natureza
do íntimo.

Depois que a noite partiu
joguei-me ao pasto bebendo luz
e silêncio,

risquei sombras na cara do dia,
planos na palma na mão...

E trazia ainda comigo a natureza...
Anitquíssima!

XLV

Era um cachorro cheio de vida,
corria e brincava pelos jardins do bairro...
A idade, contudo, é implacável e medonha,
Passou a perder-se em casa e a viver em círculos.
Concluiu, em sua sabedoria canina, a redondeza do mundo
assim como a vida, em seu pelo castanho, era feita um ciclo.

XLIV

Aqui, onde a viola faz dançar as formigas,
A noite é um vazio enorme feito de suor e escuro.
Nunca deixei de partir dos meus sonhos,
E sempre só encontrei no caminho verdades ruídas.

XLIII

Eloquente, dizia coisas demais;
Sereno, dizia coisas de menos.
Na vida não aprendeu o sabor da prudência,
Nem suspendeu a veemência da fúria...
Dispersou-se através dos anos depois que perdeu a língua.

XLII

Correu como se fosse evitar o Armagedom!
Sem dor e sem medo da Salvação.
Diante da igreja, persignou-se como quem afasta moscas.
No caminho tropeçou, e prosternado rogou mil vezes...

Para nada: os bancos não perdoam as procrastinações.

XLI

Bebeu, bebeu, bebeu!
Por desespero, bebeu o mar inteiro.
Dormindo, mijou a casa, a cara, o carma
---------------------------da mulher que amava...
Sonhou que regava o jardim de Epicuro!